Meu filho estuda em escola pública, e mesmo sendo o espaço que mais se esforça para promover a inclusão, ainda enfrentamos desafios como a falta de treinamento especializado e a falta de recursos. Quando veio a pandemia eu percebi que se não agisse, meu filho não seria alfabetizado tão cedo. Então resgatei a professora que habita em mim e comecei a alfabetizar meu filho em casa. E agora decidi dividir minha experiência para ajudar na alfabetização de crianças autistas.
Criação de uma rotina visual de alfabetização
Uma das estratégias que fez toda a diferença na alfabetização do meu filho foi a criação de uma rotina visual. Crianças com autismo, muitas vezes, se beneficiam de previsibilidade e consistência, e o uso de recursos visuais ajudou a tornar o processo de aprendizado mais claro e menos estressante para ele. Criamos um quadro de horários com imagens representando cada atividade: desde a hora de estudar as letras até os intervalos para descanso. Isso trouxe mais tranquilidade para o dia, pois ele sabia exatamente o que esperar em cada momento.
Além disso, começamos a usar cartões visuais com letras e palavras associadas a imagens. Por exemplo, o “A” vinha acompanhado de uma imagem de “abacaxi”, e assim por diante. Esse método não só ajudou na associação das letras com palavras, mas também manteve o interesse dele. Usar imagens familiares ou de coisas que ele gostava também foi uma forma de deixá-lo mais engajado no processo de aprendizado.
Essa rotina visual não só ajudou na alfabetização, mas também organizou o dia, equilibrando momentos de estudo e de diversão, o que evitou a sobrecarga sensorial e emocional. Isso, para nós, foi essencial para que ele pudesse absorver melhor o conteúdo e participar mais ativamente nas atividades.
Leia também:
Como Aprender o Alfabeto Brincando
Treino de banheiro para autistas
Métodos multissensoriais
Outra abordagem que funcionou muito bem com meu filho foi o uso de métodos multissensoriais no processo de alfabetização. Esses métodos combinam diferentes sentidos — como visão, audição e tato —, tornando o aprendizado mais dinâmico e envolvente. Por exemplo, usamos letras em relevo, que ele podia tocar, o que ajudou a reforçar a memória visual das formas das letras através do tato. Essa interação sensorial aumentou o foco e a compreensão, porque ele conseguia aprender de maneira prática e concreta.
Atividades como desenhar letras com o dedo na areia ou usar massa de modelar para formar as letras também foram muito úteis. Essas abordagens não apenas tornaram o processo mais divertido, mas também criaram conexões entre o aprendizado e o mundo real, facilitando a retenção de informações.
Reforço positivo e paciência durante a alfabetização
Durante o processo de alfabetização do meu filho, percebi rapidamente que o reforço positivo desempenha um papel fundamental no aprendizado. Cada pequena conquista, por menor que fosse, era comemorada de maneira especial. Isso não apenas o motivava a continuar, mas também fortalecia sua confiança. Por exemplo, quando ele reconhecia uma nova letra ou conseguia formar uma palavra, fazíamos uma pequena celebração, às vezes com aplausos ou até um tempo extra para brincar com algo que ele gostava.
Ao mesmo tempo, entendi que a paciência era fundamental. Cada criança tem seu próprio ritmo, e forçar um progresso rápido só criaria frustração para ele e para mim. Aprender a esperar o tempo certo para que ele absorvesse cada etapa do processo foi um grande aprendizado. Aceitar o ritmo dele trouxe mais leveza ao processo de alfabetização e tornou os momentos de aprendizad o mais agradáveis para ambos.
Uso da tecnologia assistiva
A tecnologia assistiva foi uma grande aliada no processo de alfabetização do meu filho. Aplicativos e dispositivos interativos tornaram o aprendizado mais acessível e divertido. Um dos recursos mais úteis foi o uso de aplicativos educativos, que introduziram as letras de maneira lúdica e envolvente. Com esses aplicativos, meu filho podia ouvir os sons das letras, ver imagens associadas e, ao mesmo tempo, interagir diretamente com as palavras, o que aumentou seu interesse pelo aprendizado.
Outra ferramenta valiosa foi o uso de tablets com programas de comunicação aumentativa, que ajudaram a reforçar o aprendizado de novas palavras e frases. Esses dispositivos permitiram que ele se comunicasse melhor enquanto aprendia, oferecendo uma forma alternativa de expressão. O toque na tela e a resposta imediata dos dispositivos criaram um ambiente de aprendizado dinâmico e divertido, que respeitava o ritmo dele e o mantinha engajado.
A grande vantagem da tecnologia é que ela oferece uma infinidade de possibilidades para adaptar o aprendizado às necessidades individuais de cada criança. Para meu filho, ela trouxe mais autonomia e confiança no processo de alfabetização, tornando cada nova etapa uma conquista ainda maior.
A alfabetização de uma criança autista pode ser um processo desafiador, mas com as estratégias certas e muito carinho, cada etapa pode ser uma vitória. Para mim, criar uma rotina visual estruturada, adotar métodos multissensoriais, celebrar as pequenas conquistas com reforço positivo, e aproveitar as oportunidades que a tecnologia assistiva oferece foram fundamentais para o progresso do meu filho. Cada criança tem seu próprio tempo e forma de aprender, e respeitar isso é essencial para tornar o processo mais leve e recompensador, tanto para a criança quanto para a família.
Se você também está passando por esse processo, espero que essas dicas baseadas na minha vivência possam ser úteis. Lembre-se: com paciência, flexibilidade e o uso de ferramentas que melhor atendam às necessidades do seu filho, o aprendizado pode se tornar uma jornada cheia de descobertas e superações.